Tio, por onde começo pra trabalhar com TI?

26/09/2024

Recentemente, meu sobrinho me fez uma pergunta intrigante

“Tio, por onde começo pra trabalhar com TI?”

e não só isso, ele fez isso na frente de toda a família (imagino as sugestões: “vai perguntar ao seu tio, ele tem anos de experiência na área e pode ajudar”), e sinceramente, não sei bem como responder a essa pergunta.

Porque, sem clubismo, se você perguntar a um desenvolvedor, ele vai dizer desenvolvimento. Para alguém de DevOps, será DevOps, para infraestrutura, será infraestrutura. E afinal, será que todos estão certos ou todos estão errados? Sem falar que niglegenciamos diversas areas dentro da TI quando vamos falar em carreira.

Além disso hoje, temos uma realidade diferente. Na minha época, era necessário um livro de 600 páginas para passar em uma certificação OCA ou um de 500 páginas para a LPI. Na geração dos meus mentores, nem se fala, eles tinham que importar livros e ler em inglês, com um dicionário Michaelis ao lado traduzindo palavra por palavra.

Percebo que muitos da geração atual chegam aos 20 anos sem saber o que é o prompt de comando, muito menos o Linux, quanto mais programação. Mas, sinceramente, isso não é um problema em si, as coisas mudam, mas sinto que a orientação hoje em dia está bastante confusa.

Nas faculdades de Sistemas de Informação, a primeira disciplina é “Requisitos de Software”, sério mesmo? Para alguém leigo em TI como um todo? É por aí que começamos? Na Engenharia da Computação, depois de dois anos estudando apenas engenharia, o aluno começa a aprender sobre filas e pilhas em C/C++.

Não estou generalizando, mas o mundo da TI avançou anos e agora estamos em um conflito entre inovação e tradição (para muitos, o conhecido: moderno e legado). Muitas empresas hoje têm no mesmo parque tecnológico desde o Weblogic 9 até Rancher, do Java 3 ao Quarkus 3.

Então, como conciliar a necessidade de inovação do mercado com a necessidade de conhecimento para manter e/ou desmantelar o legado? Como um novo recurso da empresa pode se destacar precisando ser bom no framework lançado ontem e ainda melhor na linguagem obsoleta que é o core da empresa?

É triste ver profissionais de destaque em nosso mercado indo pro exterior, justamente porque ficam presos em suas carreiras e especializações, pois mesmo conquistando certificações como CKA, CKD, CKS, a demanda principal ainda é dar suporte às 3 da madrugada no Weblogic 9 da empresa que precisa de um bounce por causa de um lock que tomou na base Oracle 10g.

Se é dificil pra eles imaginem os mais jovens ou mais velhos que querem entrar nesse universo.

Bem, e agora?

Depois desse desabafo, qual foi minha resposta?

“Do início”. Fim.

Brincadeira, na verdade eu disse isso mesmo, mas continuei…

Um passo inicial crucial é compreender o que é TI, o que realmente queremos dizer ao afirmar que trabalhamos com TI. Qual a importância, atividades e escopo da TI dentro de uma empresa. Dizer que é de TI só porque trabalha com computadores não é suficiente. É comum ver pessoas habilidosas em tarefas técnicas específicas, mas que não compreendem o valor do negócio da empresa, o impacto de suas atividades no cliente e no produto entregue (e sim, isso envolve todos os termos bonitinhos do Lean, do SAFe, etc.). Isso é muito importante, não que seja necessário ser um expert em tudo e saber todos os detalhes de cabeça. Mas compreender como uma empresa funcional, ágil e integrada deveria se comportar, é fundamental para dar passos rumo à mudança, certo?

Há um livro que li há muito tempo, mas gosto da forma como aborda a integração da TI estrutura com a prática, chama-se “Introdução a Sistemas de Informação”. Não sei em qual edição está agora, mas vale muito a pena para quem está começando, pelo menos para mim foi fundamental para entender como a trocar fita no robo de backup se relacionava com minha importância pra empresa.

Depois, o próximo passo seria focar na prática básica, mas bem definida: o que é um servidor? Como ele se comunica com outros? O que é uma rede? Por que eles se comunicam? Processos, serviços (código)? Nesses momentos, acho muito útil alguns exemplos de arquitetura básica, como uma arquitetura de 3 camadas bem explicada. Não adianta complicar as coisas com mensageria ou arquiteturas complexas para quem está começando.

Agora que falamos sobre a introdução teórica e técnica, o que vem em seguida?

Bem… Escolher, trilhar e estudar. Como assim?

Você não precisa ser um expert em tudo, é importante ter conhecimentos gerais, saber se é de comer ou de cheirar, mas não precisa se dedicar horas a algo que não te agrada. Isso só vai dificultar seu interesse e progresso.

TI não é apenas técnica, áreas como processos, governança, projetos e negócios são fundamentais para a existência da TI. Um código só existe porque essas áreas definiram a estrutura, modelo e necessidades para o código funcionar. E pode ser a área ideal para você.

Se essa for sua intenção, pesquise, existem casos incríveis na internet de grandes empresas, benchmarks, modelos evolutivos, como aplicaram X, como migraram para Y, além das IAs que podem te ajudar a resumir conteúdos e artigos para auxiliar nos estudos.

Quanto ao técnico, comece a fazer laboratórios, crie um portfólio, teste novas plataformas, clique em algo aleatório na CNCF landscape e experimente em um laboratório para validar. Assim, você vai descobrir uma área mais específica no mundo técnico que pode ser de desenvolvimento, sysadmin, administração de nuvem, orquestração, administração de bancos de dados, segurança cibernética, redes, etc.

E então, continue… Todos nós estamos sempre aprendendo, é um processo contínuo, desafiador, mas ao mesmo tempo, gratificante, pelo menos na minha opinião. Detesto a monotonia, acredito que a pior sensação é pensar que sabe tudo sobre algo, parece que se perde o propósito depois disso.

E antes de concluir, por favor, valorize o processo! Estamos acostumados a absorver as coisas facilmente, seja lazer, cultura, etc. Mas grandes conquistas são resultado de grandes esforços. Seu tempo de estudo é muito valioso.

E você, qual seria a sua indicação?

Amaro

Sou um profissional com mais de 10 anos de experiência em Tecnologia da Informação, especializado em Site Reliability Engineering (SRE), Observabilidade e Inteligência Artificial (AI). Com uma carreira marcada pela liderança de iniciativas estratégicas em ambientes complexos e projetos de alta relevância, atuei em grandes empresas no Brasil e no exterior, desenvolvendo soluções escaláveis e promovendo inovações culturais na área de TI. Minha expertise inclui engenharia de cloud, automação com Azure, Ansible, Python e Go, além do uso de ferramentas como Dynatrace e ELK Stack para implementar sistemas robustos e prontos para produção. Atualmente, Sou Chapter Lead de SRE, Observabilidade & AI, direcionando estratégias para melhorar a confiabilidade e a performance de infraestruturas críticas, com foco em ambientes de Linux VMs e produtos padrão. Tenho um histórico consistente de entrega de resultados mensuráveis em projetos globais, combinando conhecimento técnico avançado com uma visão estratégica orientada ao negócio. Meu compromisso é construir times colaborativos, alinhar tecnologia aos objetivos organizacionais e garantir excelência operacional em um cenário digital em constante evolução.